Monfebres

Em Monfebres existe Deus, está sentado à sombra das casas.
A cara dos homens espera os anjos descerem do pastoreio
e refugiarem-se nos ninhos. Em Monfebres os riachos sulcam

os montes e elaboram os vales. De noite, os grilos acompanham
o canto das águas pendurados nas patas, seguros nas vinhas
que lhes fazem na toca a sombra diária. As cabras alegram-se
da abundância de encostas, os casos das cabras esmagam
as pedras e o calor. E não há morte. No monte das febres
morreu-se a última vez há muitos anos,

encostado às vinhas, saboreando o verão no fim de tarde
pesado e quente, esperando que Deus sinalizasse a salvação.
(Rui Lage)

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